quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Sobre o cuidado da Casa Comum


Texto: Frei Ludovico Garmus, ofm

O título da tão esperada Carta Encíclica do Papa Francisco sobre o ambiente provém do “Cântico do Irmão Sol” de São Francisco de Assis, chamado também “Louvores das Criaturas”. O subtítulo “o cuidado da Casa Comum” indica o tema da Encíclica. A expressão “casa comum” vem do termo “ecologia” ou ambiente. A casa comum é o nosso Planeta Terra, comum não só para os seres humanos, mas para todos os seres vivos.
               
Logo na introdução (n. 1), para explicar a origem do título, o Papa cita um verso do Cântico do Irmão Sol, referente a nosso planeta: “Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz diversos frutos com coloridas flores e ervas”.
                
A Encíclica tem como destinatários o mundo católico, mas inclui também “todos os homens de boa vontade”, como o fazia o Papa João XXIII na Pacem in terris. O Papa Francisco quer entrar num diálogo familiar sobre os problemas que dizem respeito a todos que vivem na mesma casa comum (n. 2). Em seguida, lembra os vários ensinamentos e intervenções do Magistério (n. 3-7) sobre a questão ambiental, desde o Paulo VI (1971), passando por João Paulo II (1979-1988) e chegando a Bento XVI (2007-2011). Traz também o ensinamento do Patriarca ortodoxo Bartolomeu (n. 8-9, bem como o exemplo vivo de São Francisco de Assis (n. 10-12).
             
Nesta Encíclica, o Papa Francisco coloca como desafio urgente para toda a família humana: “proteger nossa casa comum… em busca de um desenvolvimento sustentável e integral” (n. 13-14). Por fim, expõe o método que seguirá em sua Encíclica, o método “ver, julgar e agir”, muito usado na Igreja da América Latina (n. 15-16).
                 
Ao “ver” é dedicado o capítulo I, “O que está acontecendo em nossa casa” (n. 17-61). Nele expõe o que já é do domínio comum: a poluição e as mudanças climáticas; a questão da água, a perda da biodiversidade; a deterioração da qualidade da vida humana e social; a desigualdade planetária; a fraca reação dos governos e as opiniões divergentes sobre a questão climática. O “ver” é feito através do olhar dos documentos e pronunciamentos do magistério, sobretudo, das Conferências Episcopais de diferentes partes do mundo, sempre ancoradas na visão dos cientistas.
                     
Ao “julgar” são dedicados os capítulos II a IV. O capítulo II, “O Evangelho da criação” (n. 62-100), o julgar é feito à luz da fé, da sabedoria dos relatos bíblicos da criação, da visão teológica e pelo olhar de Jesus. O capítulo III trata da “Raiz humana da crise ecológica” (n. 102-136). Este tema é analisado à luz do capítulo II e vê a raiz da crise ecológica na sensação de poder resultante da criatividade tecnológica, na globalização do paradigma tecnocrático e no antropocentrismo moderno.
                
O capítulo IV propõe uma tecnologia integral (n. 137-162), que envolve a ecologia ambiental, econômica, social e cultural, baseadas na vida quotidiana, no princípio do bem comum e na justiça entre as gerações.
                      
Por fim, o “agir” se desdobra nos capítulos V e VI (n. 163 a 246), que apresentam orientações para a ação e se propõem uma educação e espiritualidade ecológicas.
                   
A Encíclica do Papa Francisco aos católicos, aos cristãos em geral e aos “homens de boa vontade” nos coloca desafios inadiáveis a serem enfrentados urgentemente. Temos em mãos um roteiro riquíssimo para nossa reflexão, que poderá nos conscientizar sobre a crise ecológica. Assim iluminados pela luz da fé, da palavra de Deus e da teologia, estaremos melhor capacitados para cuidar de nossa casa comum, a irmã e mãe terra, e de toda vida que ela abriga.