Queridos irmãos e irmãs
Muitas são as passagens da vida
de Francisco ligadas à Porciúncula de Santa Maria dos Anjos.
A primeira relaciona-se ao
chamado vocacional. Francisco estava no terceiro ano de sua conversão, mas
ainda sem saber precisamente a própria vocação.
Habituou-se a morar na
Porciúncula já que todos a haviam abandonado e ninguém mais cuidava dela, como
atesta Celano: “Entristeceu-se porque
tinha grande devoção para com a Mãe de toda a Bondade” (1Cel 21). Põe-se
então a cuidá-la e reformá-la, como fez com São Damião. E foi justamente lá, em
Santa Maria dos Anjos que o fato se deu.
O Evangelho do envio, proclamado na
Missa de São Matias, iluminou Francisco.
A necessidade leva Francisco
apenas à afeição; jamais à sua posse. Não foi por nenhum devocionismo ou
romantismo, mas tão somente porque vê a necessidade da Mãe de Deus.
A “Pequena
Porção”, abandonada, descuidada de todos só não desabava, porque o Pai a
sustentava. E Francisco é prático. Imediatamente, põe mãos à obra! E à medida
que Francisco se envolve na restauração, ele se ilumina e se esclarece.
Ele vai
descobrindo e assumindo um novo modo de ser e de viver, atento aos
acontecimentos: cuidar dos necessitados – de todas as criaturas, como o Pai. Só
isso: CUIDAR! E há, por acaso, algo
mais divino do que o cuidado, sem nenhuma outra intenção ou interesse? Ser como
o Pastor!
Assim, a Santa Maria dos Anjos,
abandonada e necessitada, torna-se a Mestra de Francisco. Ele mesmo a chamava
de berço e mãe de toda a Ordem, por sua humildade e altíssima pobreza.
Francisco, aos poucos, vai-se
tornando semelhante à Porciúncula. Torna-se ele mesmo um abandonado, um
poverello totalmente entregue aos cuidados do Pai, como dissera anteriormente: “Agora, poderei dizer livremente: Pai nosso,
que estais nos céus, e não meu pai Pedro Bernardone...”
Ele próprio se
sente cada vez mais como um carente: aquele que precisa de amor e do cuidado do
Pai. Por isto, ele no auge da necessidade, próximo à morte, pede que seja levado
para aquele lugar onde começara a receber conhecimento das coisas espirituais.
E aí, completamente necessitado, totalmente entregue aos cuidados do Pai, sobre
a irmã terra, transmite e ordena aos seus aquilo que aprendera: “Não saiam nunca deste lugar, meus filhos. Se
os puserem fora por um lado, entrem pelo outro, porque este lugar é verdadeiramente
santo e habitação de Deus (1Cel 106).
A Porciúncula para Francisco se
tornou não apenas um espaço geográfico, onde Deus manifestou sua graça, mas um
símbolo inspirador e convidativo a todos os franciscanos e franciscanas, para
colherem ali a santa inspiração e a santa perseverança.
Que pela interseção de Nossa Senhora dos Anjos, o Senhor nos abençoe, nos
proteja e nos conceda a paz.
Denize Aparecida Marum Gusmão