segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A EXPERIÊNCIA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS NO MONTE ALVERNE

Quando o Conde Orlando presenteou Francisco com o Monte Alverne, o homem de Deus aceitou-o sob a condição de que aquela montanha seria o lugar ideal para oração, a penitência e a contemplação.

Lugar que mais tarde testemunhou a união íntima e perfeita de Deus com o pobrezinho de Assis, quando o seu ardor seráfico e a solitária beleza do lugar levavam o santo ao êxtase da alma e, ao êxtase dos sentidos e da visão, a Frei Leão que trêmulo de espanto, por muitas vezes, viu-o elevado do chão, absorto em Deus. Era o ápice da experiência do Alto acontecendo na vida dele, colóquio sublime da sua alma com o Altíssimo.

Ajoelhado entre as rochas e as árvores do bosque do Alverne, com o rosto e as mãos voltados para o céu, São Francisco rezava de maneira simples e sincera uma oração que ao mesmo tempo era fogo e doçura: “Quem és tu, dulcíssimo Deus meu e quem sou eu, vilíssimo verme e teu inútil servo”? E o Senhor que não responde aos filósofos e soberbos, respondeu ao humilde Francisco, no silêncio selvagem do Alverne, dando-lhe conhecer o abismo da bondade divina e a lamentável profundidade da miséria humana.

Para atingir esse ponto de intimidade com o Pai, através da contemplação, Francisco havia orado, amado, sofrido e desejado sentir em vida, na alma e no corpo, quanto possível, as dores que Jesus suportou na hora da paixão e, ainda, sentir no coração, o quanto possível, o mesmo amor do qual o Filho de Deus estava inflamado para voluntariamente suportar uma tal paixão por nós pecadores, sua entrega fora total e perfeita. E a resposta a tão sublime desejo o Senhor lhe deu, marcando a sua carne com o que ele já trazia na alma e no coração, as suas cinco gloriosas chagas, marcas da sua Paixão.

Ele havia encontrado a Deus porque o buscou na redução a nada, na vida de penitência, no despojamento. Um despojamento que não era desprezo pelos homens e pelas coisas, mas reconhecimento interior; amor perfeito para com os outros, encontrados e sentidos na luz de Cristo. E é a isso, que ele convida os seus seguidores: segui-lo nesse itinerário que exige abandono do mundo para lançarem-se na busca da plenitude do Amor. Amor que passa pela cruz, que revela e faz conhecer Deus.

Para tanto é preciso que experimentemos esse Amor e, só poderemos experimentá-lo se o desejarmos. Estaremos abertos para o desejo de Deus se estivermos, também abertos, à ação do seu Santo Espírito.

Naquele “lugar ermo” do Alverne, a experiência de Deus leva-nos a vislumbrar, lá do alto do precipício todo o itinerário da vida de Francisco e os caminhos que podemos tomar para segui-lo. É como se ele nos conduzisse para aquela altura para lá de baixo nos convidar para voarmos em direção ao infinito. De lá, nós ouvimos claramente os seus apelos; nós podemos enxergar a que nos chama a nossa vocação e nos sentimos fortes para arriscarmos, do alto daquele precipício, a iniciar com Francisco, seus sublimes vôos de amor, morrendo a cada dia para o mundo e nascendo para uma nova vida, na qual encontramos

Jesus nas fraquezas e imperfeições dos nossos irmãos e irmãs e, na qual, a partir do nosso despojamento, do nosso silêncio encontramos a alegria de permitir - lhes uma mudança de vida.

O acontecimento do Alverne veio atestar, dezoito anos depois ao de São Damião, que Francisco entrara de coração na missão de reconstruir o “lugar de Deus”, ameaçado de desmoronar. Desde então, sua vida outra coisa não foi, senão o cumprimento da palavra empenhada, que a cada dia, na busca da conversão e da imitação de Cristo, foi tomando aos poucos as feições que mais tarde, os estigmas lhe dariam: o rosto assumido por Jesus Cristo, quando nele coincidiram plenamente o desejo do homem e o desejo de Deus.

A experiência de Francisco no Alverne não foi um marco do passado, mas algo que vem acontecendo há oitocentos anos e, se renovando em cada discípulo seu que possui o coração selado pelas marcas de Cristo, quando experimenta as chamas espirituais do amor de Deus, imprimirem sua alma com as chagas de seu Filho, comunicando como amigo a um amigo, toda dor e todo o seu amor.

Tantos anos depois, ao contrário do que se possa pensar, pelo fato do Alverne ter sido transformado em santuário acessível a todos, ele não perdeu a sua capacidade de convidar ao recolhimento, a solidão, a oração e a penitência, no íntimo contato da alma com Deus. Ainda hoje, em meio as fendas de suas rochas, seus abismos, seu bosque, que foram testemunhas de tão grandes manifestações do Altíssimo, estão sempre a espera daqueles que chegam atraídos pela sugestão do milagre único que se realizou em Francisco.

Aqueles que ao subirem a Montanha Santa, buscam entre o ir e vir das pessoas um espaço para o recolhimento, diante dos lugares onde aconteceram os prodígios dos grandes êxtases, sentirão que ainda hoje, o Alverne de Francisco tem seus vales propícios para oração e contemplação, o que leva a uma revisão de vida e de valores.

Se no amanhecer ou no por do sol, pararmos na Capela dos Estigmas; na penumbra da silenciosa Santa Maria dos Anjos; no Oratório de São Boaventura e de Santo Antonio; na Capela do Beato João e na Santa Maria Madalena; no bosque e no abismo do Sasso Spicco; diante da gruta do Santo ou na de frei Leão; na Cruz da Praça do Quadrante, meditando a vida, não só na de Francisco, como na dos nossos antecessores, então também nós, apesar de nossas limitações e imperfeições, poderemos verificar que a nossa peregrinação ao Alverne, não importando por quanto tempo, haverá despertado em nós um desejo de renovação, um fermento de espiritualidade em busca de ascensão a Deus.

A meta é o Altíssimo, o caminho é Francisco e a certeza de estarmos atingindo a meta é a experiência que fazemos no Alverne, quando ao estendermos nossos braços ao chamado do nosso Fundador, alcançamos, com ele, as mãos de Deus.

São Francisco das Chagas, rogai por nós!
Denize Aparecida Marum Gusmão
(Ministra Regional)