Mais uma vez é Natal, tempo de reflexão. É festa do Menino Deus, que “sendo rico se fez pobre para nos enriquecer pela pobreza”. Filho de Deus que “derruba os poderosos de seu trono e exalta os humildes”.
O Mistério da Encarnação é tema fundamental da espiritualidade franciscana. Intui o que isto significou na experiência de Francisco de Assis e que desafios o mistério da Encarnação representa para o franciscanismo hoje, é o que me proponho a refletir.
O processo de Encarnação iniciou-se com a História da Salvação do povo de Deus e aconteceu de forma decisiva quando chegou a plenitude do tempo, o tempo pleno, urgente, Deus se encarnou, assumiu a vida humana e tudo o que lhe diz respeito: encarnou-se na fraqueza de uma virgem, na insignificância de um lugarejo e no anonimato de um povo; nem seus vizinhos perceberam... Nasceu sem pátria e no pior lugar que há para nascer! Nasceu já condenado à morte: “Herodes vai procurar o menino para matá-lo” (Mt 2,13). Como tantos meninos e meninas, nasceu condenado...
O Filho de Deus se encarnou na fraqueza, nasceu e viveu na pobreza e morreu na incerteza. A humanidade hospedou Deus e Deus assumiu a miséria e a glória humana.
São Francisco penetrou como ninguém, no insondável Mistério da Encarnação. Compreendeu que o mistério da encarnação constitui o maior evento da História. Os biógrafos são generosos em relatar a poesia e a magia de Francisco diante o Natal. No entanto, em Francisco não encontramos um discurso sobre o Mistério da Encarnação. Encontramos sim, o encanto, a emoção, o êxtase, a ternura, a mística, a celebração todas as expressões de quem penetrou no mistério sagrado. E a alma de Francisco explode em celebração.
Francisco celebra! E celebrar é mais do que saber e refletir. Celebrar é entrar na dinâmica do mistério, na sinfonia da festa. E Francisco é mestre em celebrar. Recria a cena sagrada no famoso presépio de Greccio: “Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto no presépio, e ver com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro”(1 Cel 84). E diante do presépio, Francisco abre o coração, alegra-se, enche-se de ternura e encanto, e contempla o Deus encarnado. E seu coração não se contém diante daquela que gerou o Menino e a consagra como “esposa do Espírito Santo”. Francisco é capaz de experimentar todo o mistério da vida na rústica estrebaria e dela fazer o altar da consagração.
Nós franciscanos e franciscanas, estamos hoje inseridos numa realidade na qual, mais do que nunca, a vida está ameaçada e a face de Deus desfigurada. Deus continua se encarnando na fraqueza, nascendo e vivendo na pobreza e morrendo na incerteza sempre maior. A estrebaria de outrora é hoje o em baixo da ponte, na beira dos ribeirinhos, na beira da estrada, em cima do morro...
Deixar-se atrair pelo Mistério da Encarnação, aprender a contemplar Deus encarnado, viver a forma de vida evangélica inserida no meio do povo é tarefa missionária do seguidor (a) de Francisco de Assis. Porém, esquecer a fraqueza da virgem, a estrebaria, o anonimato do povo... é não penetrar no insondável Mistério da Encarnação.
Que a Festa da Encarnação do Filho de Deus, celebrada com verdadeiro espírito cristão, nos ajude a construir hoje, um futuro de mais justiça e paz.
Santo Natal e um Novo Ano pleno de amor e alegria perfeita!
Denize Aparecida Marum Gusmão